A lua e a baleia

 


Em tempos antigos, nas ondulantes águas do Grande Oceano, uma baleia chamada Maruna deteve seu curso próximo a uma ilha isolada, e ali, imersa na quietude, mergulhou em profundos devaneios sobre o propósito que a tocava. Embora o mar despejasse a seus pés um banquete infindável de peixes, juventude e vigor florescessem em cada onda que acariciava seu corpo, Maruna sentia um vácuo no âmago de sua serenidade. Imóvel, seus olhos se encontraram com os coqueiros dançantes, marionetes do vento, enquanto a brisa fresca beijava sua alma, incitando-a a buscar um destino.


Nas constelações das baleias, crescer sem limites era um imperativo sagrado, e Maruna já alçara sua presença a um esplendor que eclipsava as próprias estrelas do mar. Suas irmãs do oceano admiravam-na pela grandiosidade que a envolvia, alicerçada por uma envergadura que subjugava todas as outras. Uns cortejavam-na, querendo que sua linhagem ostentasse filhotes majestosos, mas em seu interior, ela sofria uma carência que apascentava sua essência. Após dias imóveis, as entranhas começaram a urrar, rugidos de fome que ecoaram por distâncias marítimas. Maruna considerou, então, que sua missão era banquetear-se, e, com mandíbulas abertas como um portão celeste, devorou cardumes inteiros, mas a carência retornou, voraz como as marés.

Nuvens sombrias esgueiraram-se por seu pensamento, insinuando a dissolução de sua própria existência, na busca por um propósito mais elevado. Foi quando, sob o olhar benevolente da lua plena, uma lua além das dimensões terrenas, uma lua que cantava uma canção cósmica, Maruna encontrou um fulgor que adubou sua percepção. A radiante esfera de prata inflamou uma pulsação profunda, enchendo sua essência com uma luz que lhe mostrou o destino. E, arrebatada por esse amor, Maruna alçou-se, partindo com suas nadadeiras rumo ao luar enigmático. Entretanto, quanto mais se esforçava, mais a lua parecia distante, como uma miragem de água no horizonte sedento.

Das brumas da noite, uma voz serena ressoou: "Persiste em tua busca, pois em breve retornarei, e aí então, poderás retomar a jornada." Sorriu, Maruna, pois, finalmente, vislumbrara um porquê. Porém, para abraçar o luminar celeste, sabia que carecia de maior velocidade. Determinada, voltou-se para os golfinhos, buscando sabedoria na graça de seus movimentos, mas as brincadeiras e desatenções dos cetáceos confundiam-na. Observando com olhos despertos, ela emulou os traços dos golfinhos, forjando uma agilidade refinada, mas ainda não suficiente para abraçar a lua.

Cismou, então, em encolher, comendo menos, emagrecendo para expandir-se no firmamento. Porém, domar o apetite era tão intrincado como domar as ondas. Certo dia, um cavalo-marinho sábio interrompeu suas peripécias, trazendo realismo à sua busca. "Ó maravilhosa buscadora", advertiu-o, "o amor pela lua é como tecido de sonhos, à medida que avanças, ela recua, rainha das ilusões, cujas travessuras embriagam corações." Mas Maruna perseverou, como um cântaro vazio em busca da chuva celestial.

Consoante as eras, seu corpo declinou, encolheu, as mandíbulas outrora imensas agora minguavam. Mas, ao cortejar as fronteiras da lua, um sábio amigo se aproximou, uma tartaruga idosa, portadora das marcas do tempo. Ela disse: "Jovem viajante, já fui como ti, teimosa, buscando tesouros em miragens, perseguindo desígnios alheios. Sorte a minha, pois a vida das tartarugas é um poema longo, e metade deste verso eterno foi dedicado a decifrar tolices. Não te embrenhes, Maruna, na areia estéril do desespero. Enxerga além do véu do mundo, pois teu ser já está pleno, basta reconhecê-lo, uma melodia que entrelaça o mar e o vento, um elo que celebra o milagre do existir."

E com esse sussurro, Maruna encontrou uma luz mais radiante que a lua em seu coração, seu corpo transmutando em um ovo cintilante. E a casca cedeu, para revelar uma pequena tartaruga, que imediatamente se lançou ao oceano, pronta para dissolver-se na vastidão da existência, fundindo-se na melodia dos ventos, nas profundezas das águas.

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